O San Pedro Valley, por Victor Salles

Victor Salles
Head de Inteligência Artificial no iFood, empreendedor e co-fundador da Hekima, startup adquirida pelo iFood em 2019. Dedica boa parte do seu tempo para apoiar projetos sociais e de fomento na comunidade San Pedro Valley, é conselheiro do Órbi Conecta

O nascimento

O San Pedro Valley é o nome do ecossistema de startups da região metropolitana de Belo Horizonte. É difícil dizer com precisão quando ele surgiu, pois muitos cases de sucesso de empresas com modelos de negócios altamente escaláveis acontecem aqui, nos arredores da Serra do Curral, há muito tempo. Vale ressaltar o case da Akwan, empresa criada por professores da UFMG e que foi vendida para o Google em 2005, razão pela qual o escritório de engenharia do Google Brasil está localizado em BH desde então. Eu lembro que em 2008, quando fundei a Hekima com outros sócios, pouco se falava de startups na capital mineira. Ninguém sabia direito o que é uma startup e a empresa mais parecida com uma startup naquele momento era a Samba, fundada pelo Gustavo Caetano.

No entanto, acredito que por volta de 2011 o ecossistema começou a ganhar densidade e nós começamos a ouvir falar de outros cases e empresas nascendo em diversos segmentos. O nome surgiu nessa época, por meio de uma brincadeira entre os sócios da Hotmart e da RockContent. Eles dividiam uma sala alugada no bairro São Pedro e era comum encontrarem com outros empreendedores ali nas redondezas durante um café ou almoço, por exemplo. Em um encontro com o Bernardo Porto, fundador da DeskMetrics, o Mateus Bicalho (co-fundador da Hotmart) brincou com o Edmar Ferreira (co-fundador da RockContent) que o bairro estava igual ao Vale do Silício, pois era fácil encontrar algum fundador de startups por ali para trocar ideias e experiências. Daí surgiu o nome de San Pedro Valley, fazendo alusão ao famoso Vale do Silício norte-americano.

O nome era tão engraçado que começou a aparecer nos papos com os demais empreendedores da região, nos almoços e happy hours que aconteciam com frequência. É possível ver postagens de twitter dessa época em que o pessoal usava as hashtags #sanpedrovalley e #spv.

A essência do movimento

O movimento sempre foi baseado na colaboração entre os empreendedores para que as suas empresas pudessem crescer. Cada negócio estava em um estágio de maturidade em relação a produto, vendas, marketing, design, processos, investimentos e os empreendedores se conectavam para aprender uns com os outros, compartilhar experiências e também as dores da jornada.

A comunidade que se formou ali era completamente orgânica, as pessoas se conectavam e a rede se expandia a cada encontro. Era comum o pessoal se encontrar uma vez por mês para tomar cerveja e discutir os rumos ou desafios dos negócios. Naquele momento, não tínhamos um contexto de concorrência forte e por isso os papos eram bem abertos. O respeito e o acolhimento da cultura mineira fazia com que o clima amistoso se expandisse com rapidez entre os participantes. Todos se inspiraram com o desejo de criar negócios incríveis e aprendiam as formas inovadoras de resolver os problemas em cada ramo do negócio uns com os outros.

O SPV ganha corpo

A conexão entre os empreendedores e a convicção em relação ao modelo de negócios inovador das startups era tamanha, que alguns deles resolveram fundar uma associação, pois não existia uma entidade que olhasse para tópico no Brasil. Foi assim que surgiu a Associação Brasileira de Startups (ABS), por volta de 2011.

A gente espalhava o nome do San Pedro Valley pelas mídias sociais, falando dos encontros, mas especialmente quando alguma empresa da rede era premiada ou recebia algum investimento vultuoso. No fim de 2011 eu lembro que o San Pedro Valley apareceu no Manhattan Connection e foi referenciado como o vale do silício brasileiro.

No entanto, um episódio que me marcou bastante, foi a visita a Belo Horizonte do israelense Roi Carthy, sócio da Initial Capital, em que vários empreendedores foram convidados para fazer uma reunião e apresentar um pitch sobre seu negócio. Ele percebeu que existia uma conexão e senso de comunidade diferentes acontecendo ali, pois vários empreendedores se conheciam. Enquanto ele pulava de reunião em reunião, tentando cumprir o cronograma apertado da viagem, para aproveitar o tempo e conhecer a maior quantidade de pessoas que pudesse, a gente batia papo na ante-sala, aguardando a nossa vez em conversas descontraídas.

A organização do SPV sempre foi informal e nunca teve cargos ou estrutura específica. A comunicação era feita por meio de um grupo de Whatsapp, criado em fevereiro de 2013, em que a gente trocava dicas de negócios e empreendedorismo com algumas dezenas de pessoas que estavam ali. Funcionava como a extensão dos bares, onde nos encontrávamos de tempos em tempos, mas com muito foco nos problemas e necessidades de negócios.

Certa vez, uma jornalista próxima de alguns empreendedores, também visitou Belo Horizonte, ficou interessada com as histórias e o clima do ecossistema, e resolveu publicar sobre o San Pedro Valley na imprensa. Depois, muita gente começou a se interessar pelo que estava acontecendo, pelos cases de negócios e diversas matérias começaram a ser publicadas sobre o vale do silício brasileiro, como se a pauta tivesse ganhado força de vedade. Até que um dia o nome do SPV saiu em uma reportagem da revista “The Economist”. Pronto, ninguém mais duvidava que a brincadeira tinha virado uma coisa séria.

Após esse episódio, o governo estadual procurou saber mais sobre o que estava ocorrendo e vários empreendedores foram convidados para ajudar a desenhar um programa que impulsionasse as startups. Foi assim que o Escritório de Prioridades Estratégicas do Governo de Minas Gerais desenhou o SEED com a ajuda da comunidade em 2013, com o objetivo de fomentar projetos ligados à tecnologia.

Esse passo foi fundamental, pois um ecossistema de verdade vai muito além das startups. É necessária a presença de diversos players como aceleradoras, entidades financiadoras, fundos de investimentos, universidades, espaços de inovação e o governo.

O ambiente começou a ficar muito fértil e teve efeito também sobre o fluxo de capital do país, antes concentrado em São Paulo, onde fica a maior parte dos fundos de investimentos. O sucesso de muitas startups locais em seus mercados passou a convencer os investidores de que mudar de cidade não era necessário. Além do mais, a qualidade da mão de obra encontrada aqui, graças a inúmeras universidades de ponta, era um ativo estratégico muito interessante para empresas de tecnologia.

Nessa época, me lembro que o governo federal estava lançando a 2a fase do Startup Brasil, programa de aceleração para startups, e era impressionante a quantidade de mineiros inscritos. A comunidade já tinha meetups, hackathons, hack days e eventos para congregar as pessoas em diversos formatos. Isso acabou acelerando a disseminação da informação e o nascimento de novos negócios.

O prêmio da comunidade

Em 2014, muitas empresas do SPV já estavam faturando na casa dos milhões de reais, crescendo bastante e com centenas de funcionários. Nesse cenário, a ABS resolveu realizar a 1a edição do CASE, um evento para promover o universo das startups e o empreendedorismo.

Nós soubemos que haveria um prêmio para a melhor comunidade de startups e também para players do ecossistema. Era a nossa chance de colocar o nome do SPV no palco e então nos organizamos nos grupos de whatsapp para que as pessoas votassem e o ecossistema tivesse o maior número de ganhadores.

Na hora de falar o ganhador do prêmio comunidade, a gente tinha certeza que iríamos ganhar, por isso a grande discussão no grupo era sobre o seguinte: quem iria receber o prêmio no palco pelo SPV? Afinal, não tínhamos um único representante ou estrutura formal.

Nesse momento, alguém deu uma ideia no grupo, que foi rapidamente aceita: todos os membros do SPV presentes no evento iriam subir no palco para receber o prêmio juntos! Foi um momento mágico e marcou o impacto do nosso ecossistema. Recebemos em grupo o prêmio Spark Awards 2014, o troféu de melhor comunidade do Brasil. Eu ainda lembro da cara de estranheza dos organizadores quando viram dezenas de mineiros subindo no palco ao mesmo tempo para dividir o troféu.

O nascimento do Órbi

Por volta de 2015, o ambiente para startups no Brasil estava completamente diferente, pois todo evento de tecnologia, tendências ou empreendedorismo cobria essa pauta com muita ênfase. As grandes empresas do país estavam intrigadas com o fenômeno das startups e nesse contexto, o Itaú e a Redpoint criaram o Cubo em São Paulo para ser um dos maiores espaços de empreendedorismo do país, conectando startups com as grandes empresas.

Quando esse espaço surgiu, várias das empresas do SPV viram ali uma oportunidade para ter uma base em São Paulo e novamente impulsionados pela conexão forte entre os empreendedores, começamos a dominar esse novo espaço, visto que era ótimo estar cercado dos amigos também no ambiente paulistano. Eu lembro que em certo momento, na 1a versão do Cubo, das 50 startups residentes, cerca de 25% eram de Belo Horizonte, mostrando a força dos modelos de negócios e pujança das empresas.

No entanto, no meio dos encontros da comunidade, nos San Pedro Cervas (evento informal para encontrar, tomar cerveja e falar de negócios) que ocorriam em diversos bares, espetinhos e espaços de inovação da região, alguns empreendedores começaram a conversar sobre a importância de Belo Horizonte também ter um espaço de conexão como o Cubo. Um espaço que pudesse gerar conexões físicas com mais densidade e que pudesse ser a casa central para conectar os diversos players do SPV, com uma abordagem diferente do que se via em SP. A ideia era criar algo que tivesse atração gravitacional no ecossistema e movidos por esse anseio, o Pedro Menezes e a Anna Martins, juntamente com outros empreendedores da comunidade, se juntaram com o Banco Inter, a MRV e a Localiza para criar o projeto do Orbi Conecta. Nasce assim, em 2017, o Órbi Conecta, como mais um fruto do poder da rede criada pelo San Pedro Valley.

Ao infinito e além

Depois de todos esses anos de movimento, hoje o SPV possui mais de 300 startups oferecendo serviços e produtos inovadores, nos mais variados segmentos. Existem empresas em diversos estágios de maturidade, desde as embrionárias na fase de ideação até empresas que já fizeram IPO, como a Meliuz. Empresas premiadas e inúmeros cases de sucesso como: RockContent, Samba, Track, Sympla, Hotmart, Maxmilhas, Hekima, Opinion Box, Take, Dito, AppProva, SmarttBot, Trybe, Solides, Cotak, Beer or Coffee e muitos outros.

Temos um senso de comunidade forte e muita gente com experiência disposta a contribuir com mentorias e feedbacks para quem está chegando. Há vários anos, centenas de alunos frequentam a disciplina de empreendedorismo da UFMG e semestralmente tem a oportunidade de assistir um curso cuja a maior parte das aulas é ministrada pelos empreendedores de várias empresas que tiveram sucesso e já fizeram muito pelo ecossistema.

Atualmente existem inúmeros grupos de whatsapp, slacks e espaços de inovação para explorar na região metropolitana de BH. Durante esse tempo todo, muitas pessoas contribuíram para que a comunidade crescesse em diversos aspectos. Mas, ao mesmo tempo, já são tantos players e pessoas envolvidas na história do SPV, que nesse grande fluxo, nem todo mundo se conhece tão bem ou com tanta intensidade como acontecia no início.

Muitas pessoas criticam e me perguntam o que poderia ser feito para que a mesma magia que tínhamos nos primórdios voltasse. Nesses momentos de angústia das pessoas, que acontecem de tempos em tempos, eu sempre reforço as coisas que acredito que fizeram o ecossistema crescer. Na minha visão, a magia nunca se foi e o ambiente está certamente muito mais propício do que estava há 10 anos. Desse modo, se eu pudesse descrever três formas de ajudar, elas seriam:

  1. Se você tem uma boa ideia e disposição para empreender, monte uma startup, faça ela dar certo e tente ajudar o máximo de pessoas que puder no caminho. Gerar valor com negócios exponenciais, ainda é a melhor forma de ajudar o ecossistema.
  2. Crie relações e conexões genuínas de melhoria mútua e evolução contínua. O espírito acolhedor da cultura mineira favorece para que as pessoas se conheçam com facilidade e promovem a serendipidade além dos espaços de inovação tradicionais.
  3. Espalhe o mindset Lean Startup nas escolas, universidades e demais ambientes de negócios tradicionais. A capacidade de lidar com a incerteza, evitar o desperdício e gerar alto impacto com baixo custo é algo que definitivamente muda o jogo.

Olhando para trás, eu acho que o rompante que fez o SPV dar certo no passado foi uma onda positiva que é cíclica e esses 03 pontos acima estiveram presentes em muitas ações realizadas na comunidade. Essa onda pode ser fomentada para que cresça continuamente, com altos e baixos no curto prazo, mas com excelentes resultados no longo prazo. A participação de todos os players, com uma boa coordenação e incentivo do governo, pode multiplicar o poder dessa onda com impactos exponenciais, criando fenômenos fantásticos, como podemos observar em Israel, por exemplo.

Penso que, enquanto o clima amistoso, o respeito, a vontade de crescer, colaborar e inovar estiverem presentes, o espírito do San Pedro Valley se multiplicará e perdurará além das pessoas e das empresas. É isso que me move a sempre separar um tempo para oferecer mentorias para as empresas menores, especialmente. Um ecossistema forte pode cortar caminhos e mudar completamente os rumos de um negócio. Eu fui testemunha de que a jornada de se criar uma startup pode ser muito menos difícil com o auxílio de bons conselhos de quem sabe fazer melhor do que eu e boas pessoas para conversar. Esse é e sempre será o espírito do San Pedro Valley.

2006

Quando tudo começou…

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2007

Título 2…

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2009

Título 3…

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2010

Título 4…

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2022

Título 5…

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