Por Luis Martins, CEO da Dadosfera, plataforma de Data, AI e Analytics avançada

Vivemos um momento raro na história da tecnologia — uma curva de inflexão. E como toda grande virada, ela traz mudanças profundas na maneira como pensamos, trabalhamos e, inclusive, empreendemos. Está nascendo um novo perfil de empreendedor: aquele que não precisa mais de um time técnico completo, no início, para tirar sua ideia do papel. Com a Inteligência Artificial (IA), esse profissional consegue testar hipóteses, construir protótipos e colocar soluções em funcionamento com um custo baixíssimo; às vezes, até gratuitamente.
Essas pessoas não são necessariamente do mundo da tecnologia. Elas vêm de áreas como medicina, direito, psicologia, moda, educação e outros. Profissionais que carregavam há anos uma ideia engavetada, um projeto “impossível” por falta de acesso técnico ou capital. Agora, com o apoio dos Agentes de IA (originados pela IA Generativa), esses funcionários e profissionais autônomos estão descobrindo que podem empreender em escala sozinhos — são os “solo founders” ou “fundadores solo”, em português.
A grande questão é que o termo solo founder foi cunhado em uma época que o fundador escolhia a jornada do empreendedorismo sem o apoio de outros cofundadores. Isso poderia acontecer por vários motivos, desde preferir decisões de negócio mais rápidas até a falta de uma pessoa potencial para ser cofundadora. Agora na era da IA, o empreendedor solo por IA adquire um novo patamar, onde se tornará cada vez menos necessário grandes times para uma execução de uma estratégia com êxito. Até chegarmos na utopia que gerou uma aposta em círculos fechados de CEOs do Vale do Silício: o primeiro unicórnio de uma pessoa. Imagine uma empresa inteira, desde, suporte, marketing, vendas sendo operada por um batalhão de agentes de IA e somente um ser humano: o(a) empreendedor.
Pense, por exemplo, no caso real de um dos maiores especialistas em medicina fetal do Brasil. Ele sempre teve o sonho de criar um produto capaz de revolucionar a maneira como é realizado o ultrassom morfológico na gravidez. Sua ideia é desenvolver um sistema inovador que facilite a identificação precoce de biomarcadores importantes ainda durante o desenvolvimento fetal. Um exemplo é a possibilidade de detectar precocemente doenças como a Síndrome de Down através da medição do acúmulo de líquido na nuca do bebê.
A barreira para tornar esse sonho realidade nunca foi seu conhecimento técnico ou experiência prática, adquirida ao longo de milhares de diagnósticos. O que faltava era a infraestrutura tecnológica: um CTO competente, uma equipe de desenvolvimento especializada e o alto investimento necessário para criar uma solução tão inovadora.
Agora, com o avanço dos agentes de Inteligência Artificial, o especialista consegue avançar rapidamente em seu protótipo com menos complexidade técnica. O que antes exigiria milhões de reais e uma extensa infraestrutura passou a ser viável como um Produto Mínimo Viável (MVP). Hoje, ele pode lançar essa solução inovadora no mercado usando apenas suas economias pessoais, sem depender de investidores externos.
Esse movimento, ainda que recente, não é uma surpresa para quem estuda ciclos tecnológicos. Andy Grove, ex-CEO da Intel, já falava sobre isso no livro “Só os paranoicos sobrevivem”, lançado em 1996. Ele define no livro os “pontos de inflexão estratégicos”, momentos em que a estratégia das empresas precisa mudar para sobreviver ou sair do mercado. Muitas das vezes, esses pontos são originados por novas tecnologias que mudam as regras do jogo para todos — inclusive para quem não está jogando. Para Grove, não haveria escapatória: deixar de acompanhar as mudanças tecnológicas poderia ser fatal para qualquer empresa.
Bill Gates também previu que nossas vidas estariam irremediavelmente ligadas à tecnologia. Em um memorando enviado para todos os executivos da Microsoft, em 1995, ele dizia que a internet era “a criação mais importante desde o lançamento do IBM PC [computador pessoal], em 1981”, solicitando então a máxima atenção para seu desenvolvimento. Em 2023, impressionado pela capacidade que a IA generativa alcançou, Gates escreveu uma carta aberta na qual afirma: “Ela [a IA generativa] mudará a maneira como as pessoas trabalham, aprendem, viajam, recebem cuidados de saúde e se comunicam. Indústrias inteiras se reorientarão em torno dela. As empresas se diferenciarão pela forma como a utilizam.”
Satya Nadella, atual CEO da Microsoft, levou a discussão adiante ao dizer publicamente que a era de SaaS — Software as a Service (ou software como serviço) tradicionais está dando espaço para uma novo paradigma de Software criados por IA. Publicamente, esse discurso foi traduzido de uma forma simplista como “O SaaS está morto”. De acordo com ele, o SaaS como o conhecemos hoje está com os dias contados. Estaríamos entrando na era dos agentes inteligentes. A IA passou a entender o que dizemos e a executar. Ela atua como uma camada intermediária que compreende comandos em linguagem natural e interage diretamente com os dados, eliminando a necessidade de interfaces rasas, como as que temos em alguns SaaS tradicionais.
Um exemplo (futurístico, mas não tão distante) próximo do dia a dia da maioria seria deixarmos de usar um Drive (Google, iCloud, Dropbox, Microsoft OneDrive) para armazenar arquivos, bastando solicitar ao agente inteligente, por comando de voz, para guardar um documento e acioná-lo sempre que requisitado. Não seria mais preciso usar interfaces gráficas para criar pastas, ou mesmo lembrar onde você salvou seu documento. A organização das informações ficaria completamente por conta do agente de IA (ainda personalizado para seu uso).
Essas facilidades estão cada vez mais próximas da vida cotidiana. Isso reconfigura completamente o papel da tecnologia nas mãos de quem tem ideias, mas não sabe programar. Não significa que qualquer um pode criar qualquer coisa, nem que todas as soluções serão mágicas. Mas significa que empreender nunca foi tão acessível. De acordo com projeções da Gartner, Precedence Research e cálculos de Total Mercado Endereçável (TAM do inglês) pela Bain & Company, o mercado global de aplicações de IA (software e serviços) deve chegar próximo ao marco de US$ 1 trilhão (990 bilhões) já em 2027.
Mais ainda, esse valor pode chegar à soma astronômica de US$ 1 trilhão ainda no final de 2025 se considerarmos hardware de inferência (do inglês “edge AI”), por exemplo, a parte física utilizada no seu celular para deixar a IA mais rápida. Sem entrar em muitos detalhes sobre o tamanho de mercado, já que seria assunto para um artigo por si só. Por hoje, o que mais me impressiona não são esses números abissais ou as pessoas que ainda ignoram a Era da IA, mas sim pessoas comuns. Pessoas de diferentes áreas e classes sociais, que agora serão empoderadas nessa ação que nos diferencia como seres humanos e que nos traz quase uma sensação do divino: criar.
A Dadosfera
É uma plataforma que une Dados, IA e Análises Avançadas para empresas de todos os segmentos. Com sede em Belo Horizonte (MG), conta com cerca de 30 colaboradores e sua plataforma já processou mais de 800 bilhões de eventos entre diferentes fontes de dados. Seus clientes se diversificam em uma gama desde o Clube Atlético Mineiro, até Unimed, além de um portfólio que inclui Banco Inter, WEG, Vallourec e Vale. A Dadosfera já captou mais de R$ 13 milhões para impulsionar seu crescimento e inovação.
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